Satélites no céu para guardar carbono na terra
As transformações que ocorrem na superfície do planeta têm distintos impactos no ciclo do carbono: podem contribuir para remover carbono da atmosfera a partir de processos naturais, ou devolvê-lo através do fogo ou outros processos. Estas transformações podem ser de origem natural, mas são, sobretudo, de origem antrópica, quando transformamos a superfície do Planeta para servir as nossas necessidades ou caprichos, criando um desequilíbrio na ordem natural das coisas. Estudar os impactos destas transformações no ciclo do carbono é um tema muito complexo que requer a colaboração de múltiplas áreas científicas.
Uma das áreas que tem um grande contributo é a Deteção Remota, ao permitir observar e analisar as dinâmicas da superfície da terra com recurso a sensores ativos ou passivos, orbitais ou aéreos. Segundo o USGS “A deteção remota é o processo de deteção e monitorização das características físicas de uma área, medindo a sua radiação refletida e emitida à distância (tipicamente de satélite ou aeronave). Câmaras especiais recolhem imagens remotamente, o que ajuda os investigadores a "sentir" coisas sobre a Terra”.
O recurso a esta tecnologia tem bastante utilidade quer para fins científicos quer comerciais. A criação e aplicação de novas tecnologias de captação e análise dos dados obtidos por deteção remota tem contribuído cada vez mais para a compreensão do nosso planeta e das suas dinâmicas, não só ao nível do uso do solo, mas também das suas implicações na saúde dos ecossistemas.
Os diferentes materiais respondem à luz solar de forma diferente. Essa resposta, cujas particularidades são registadas nesses sensores, permite estudar as propriedades da superfície terrestre. Por exemplo, a vegetação saudável reflete muito pouco a luz vermelha e bastante elevada no infravermelho próximo. Se pudéssemos ver o infravermelho próximo como uma cor, seria essa a cor das plantas, e não o verde, no entanto, da luz que conseguimos distinguir com os nossos “sensores” (os olhos), é a verde a que tem maior importância.
Estudar as diferenças na resposta de um objeto ao vermelho e ao próximo infravermelho permite analisar a intensidade da atividade fotossintética das plantas e avaliar o seu estado de saúde. Quem fala de vegetação pode dizer o solo, que, em função da sua composição, pode assumir várias tonalidades de cor. Essa diferença é observada por sensores, estudada e mapeada.
Diferentes usos do solo têm diferentes níveis de pressão nos ecossistemas e podem ser mapeados de uma forma barata e relativamente rápida. Assim, é possível acompanhar a evolução e as dinâmicas da superfície, permitindo o cálculo de saldos de carbono por mudanças no uso e ocupação do solo.
Recentemente, as tecnologias de mapeamento 3D tornaram se mais precisas, versáteis e acessíveis. A generalização dos drones liberalizou a criação de modelos digitais de terreno e superfície altamente detalhados. A implantação desta tecnologia permite avaliar o carbono presente como biomassa e estudar as características geomorfológicas que influenciam o ciclo do carbono com um detalhe muito elevado.
Portanto, as tecnologias de observação da terra fornecem ferramentas que permitem avaliar o estado da superfície de uma forma barata, rápida e eficiente. É uma importante ferramenta de monitorização dos sistemas que atuam na superfície do planeta e quando combinada com o estudo detalhado do solo e do ciclo do carbono, permite aferir as condições da sua captura e fazer estimativas e medições de grandes áreas com elevada precisão.